Nada menos que 75,7% dos professores do ensino fundamental de Vassouras possuem formação de ensino superior, metade deles tem renda familiar bruta superior a R$ 1.500 e 37,5% têm idade entre 30 e 39 anos – sendo que 29,3% têm menos de 30 anos. Esses dados constam dos resultados preliminares de uma pesquisa realizada para o projeto Escola, Leitura e Escrita no Município de Vassouras, uma parceria do Instituto São Fernando com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). São dados que sugerem um perfil de profissionais com qualificação e disposição para participar do programa Formação Continuada (FoCo), desenvolvido em Vassouras pelo ISF.
Coordenadora da pesquisa e diretora do Departamento de Educação da a PUC, a professora Alicia Bonamino explica que os resultados têm como base um questionário aplicado em 2008 a 185 professores participantes do FoCo. O objetivo do questionário é traçar o perfil socioeconômico, cultural e pedagógico dos professores, bem como diagnosticar suas percepções e práticas no ensino da leitura e da escrita.
Segundo Alicia, os dados do questionário mostram que somente 5,5% desses professores são do sexo masculino. “O magistério no ensino fundamental é uma carreira essencialmente feminina”, diz ela, ressaltando, porém, que “este não é um fenômeno especificamente brasileiro”.
A pesquisa mostra que a grande maioria (78,8%) dos professores fez curso superior em instituição privada, sendo que 42,2% cursaram pedagogia e 30,6%, licenciatura. Apenas 24,3% têm formação em ensino médio. Do total, 69% ainda não fizeram ou não concluíram pós-graduação e 27,7% fizeram cursos de pós-graduação.
Em relação à experiência profissional, a pesquisa mostra que 39,3% dos professores têm mais de 15 anos de magistério e que apenas 14,6% dos professores de Vassouras podem ser considerados novatos, ou sejam, têm até cinco anos de experiência. Oitenta por cento responderam que não exercem outra atividade remunerada. Metade dos professores trabalha em duas escolas e 50,8% trabalham mais de 40 horas semanais, o que indica uma sobrecarga.
Outro aspecto importante da pesquisa é o tema da adoção do livro didático de leitura e escrita como recurso pedagógico. O levantamento indica que 38,1% dos professores não adotam esse tipo de livro. Entre os que o adotam, apenas 8,2% o utilizam quase que diariamente. O livro didático é utilizado semanalmente por 26,1% dos professores e esporadicamente por 27,6%.
Dos professores que adotam o livro didático, a maioria tem menos de um ano de experiência com esse tipo de livro. Alicia comenta: “Este é um resultado importante em razão de que diversas pesquisas apontam que a utilização do livro didático colabora para a organização do trabalho escolar, direcionando-o para o processo de aprendizagem e contribuindo para uma maior clareza dos objetivos de ensino.”
A pesquisa revela ainda que 47,6% dos professores passam dever de casa para os alunos algumas vezes por semana e que apenas 18,9% fazem isso diariamente. Segundo Alicia, estudos indicam que “a ênfase em passar e corrigir dever de casa é um dos fatores que intervêm positivamente no desempenho dos alunos”. Apenas 2,5% dos professores praticam leitura de livros de literatura com os alunos duas ou mais vezes por mês, 44% o fazem de vez em quando e 6% nunca ou quase nunca.
Visando a acompanhar a evolução da qualidade da educação na cidade, o projeto Escola, Leitura e Escrita no Município de Vassouras tem dois objetivos: subsidiar o FoCo e avaliar a contribuição desse programa à adoção de novas práticas no ensino de leitura e escrita nas escolas públicas do ensino fundamental. Foi iniciado em 2007, com um diagnóstico de escolas que oferecem o terceiro e o sexto ano do ensino fundamental. Este ano, será feita nova avaliação em que os dados de 2007 servirão como base para caracterizar o desempenho dos alunos em leitura e escrita antes e depois da implementação dos cursos de formação de professores.