Teve início em setembro o projeto Turmas de Apoio, que conta com o suporte do Instituto São Fernando e do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (CEDAC).
Milou Sequerra, Coordenadora Regional de Língua Portuguesa do CEDAC, explica que os grupos de apoio são espaços de aprendizagem voltados para os alunos que ainda não se alfabetizaram, apesar de já estarem em séries mais adiantadas do Ensino Fundamental (a partir do segundo ano). O projeto ocorre paralelamente ao trabalho da classe regular. Além das aulas tradicionais que frequenta em sua classe, o aluno desses grupos tem aulas específicas, fora do horário de aula (em alguns casos), no qual se trabalha sua dificuldade específica. “A inovação do projeto reside no fato de o mesmo ser uma ação constante no município, enquanto o projeto Correção de Fluxo é uma iniciativa temporária, enquanto houver grandes distorções idade-série”, ressalta Deborah Levinson, Diretora Executiva do Instituto São Fernando. O seu objetivo é estancar a quantidade de alunos repetentes que depois precisam ser readequados no projeto Correção de Fluxo.
Participam deste projeto alunos do primeiro segmento do ensino fundamental das redes municipal e estadual. Esses alunos estão nas séries em que já se pressupõe maior autonomia para ler e escrever (a partir do segundo ano) e que ainda não conseguem fazê-lo, por não dominarem o princípio alfabético. As aulas ocorrem duas vezes por semana, têm a duração de duas horas e são ministradas por uma professora especialmente designada para essa função. As professoras dos grupos de apoio contam com espaço de formação específico para instrumentalizá-las para esse trabalho.
Denise Calixto Mandaro, Gerente de Ensino da Coordenadoria Centro Sul II, argumenta que, mesmo sabendo que de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases esta responsabilidade seria da rede municipal, quando se é educador tudo o que se quer, é que os alunos tanto no âmbito municipal quanto estadual possam ter as mesmas chances de aprendizagem. “Se temos condições de fazermos parcerias, devemos fazê-las sem demora”, defende Denise. A professora Rute Pereira de Oliveira destaca o caráter humanista do projeto: “É muito bom ver os alunos caminharem, atuar no processo antes de esperar o mau resultado. Antes os professores só reclamavam, agora têm uma ação que atua na causa do problema, intervindo antes de chegar ao fim do ano para reprovar o aluno.”
Segundo Denise Brandão da Silva, Coordenadora da Secretaria de Educação do município de Vassouras, os alunos estão gostando das Turmas de Apoio; há inclusive alunos não contemplados que também querem ir para o Grupo de Apoio, pois ali vislumbram possibilidade de progresso, diferente da sala de aula tradicional. “Havia alunos de 5.º ano (antiga 4.ª série) que não sabiam ler. Viravam ótimos copistas. Há o caso de um aluno que agora está se destacando no Grupo de Apoio, e por isso não quer mais sair do grupo, é um momento onde ele tem sucesso”, relata Denise. Jussara Pereira da Costa, Diretora da Escola Municipal Prefeito Pedro Ivo da Costa, exemplifica o sucesso do projeto com o caso de um aluno que foi indicado para uma Turma de Apoio, por não saber ler na sala de aula tradicional. Entretanto, o aluno já sabia ler, só não conseguia ler no ambiente tradicional. Devido a uma nova forma de conduzir o processo, e por estar em um grupo menor, ele conseguiu superar sua dificuldade.
Dentre os resultados que advirão do projeto, espera-se que os alunos tenham condições de superar suas dificuldades, que possam dominar as etapas necessárias para que se tornem capazes de reconhecer as palavras até o final do ano letivo, através da leitura e da escrita. Já aqueles que estão em distorção idade-série, poderão continuar, no próximo ano, no projeto Correção de Fluxo. Mais que isso, Denise Calixto defende que esses alunos sairão do marasmo escolar, da falta de perspectiva, e descobrirão como é gostoso aprender, como é interessante ler o mundo também usando as palavras escritas, colocando letras nos seus pensamentos. “Pois, como disse Paulo Freire, começamos a ler o mundo antes de lermos as palavras; no entanto, quando conhecemos e dominamos a palavra escrita, quanto mais conhecimentos passamos a adquirir”, cita Denise.
Para o futuro, a proposta é que o projeto seja incorporado em caráter permanente em todas as escolas, e que ao mesmo tempo sejam criadas novas formas de educar, para que se possa obter o sucesso garantido dos alunos no decorrer do tempo. Milou Sequerra afirma que, em 2010, além dos grupos de apoio de alfabetização, também está planejada a implantação de Correção de Fluxo, para responder ao grande número de alunos da rede que se encontram defasados por terem idade superior à faixa etária da série que cursam.
Segundo a Secretária Municipal de Educação Vania Cristina Baptista, o projeto é muito auspicioso, porém existe ainda um grande gargalo, que é a falta de professores para compor mais grupos, o que pode comprometer a sua eficácia. “Já estamos em andamento, o prefeito já está analisando o impacto das contratações junto às Secretarias de Administração e Fazenda”, adianta Vania.